O Carnaval é, sem dúvida, o mais importante evento lavrense, capaz de mobilizar toda a comunidade e considerado o maior carnaval da Região da Campanha e um dos mais movimentados do Estado e do Interior Brasileiro. A folia dura seis dias, da noite sexta-feira à Quarta-feira de Cinzas, sendo realizados diversos bailes infantis e adultos, sobretudo na Praça Licínio Cardoso e no Clube Comercial. A cidade possui cerca de 30 blocos carnavalescos e escolas de samba. A partir do Ano Novo, durante o verão e até a Quarta-feira de Cinzas, são realizados mais de 100 eventos alusivos apenas a essa data na cidade. Os churrascos dos blocos no interior do município e o uso de camisetas dos mesmos são duas tradições que não podem faltar no Carnaval lavrense.
A partir do Ano Novo, durante o verão e até a Quarta-feira de Cinzas, são realizados mais de 100 eventos alusivos apenas a essa data na cidade. Os churrascos dos blocos no interior do município e o uso de camisetas dos blocos são duas tradições que não podem faltar no Carnaval lavrense.
A principal razão para que o lavrense pule o Carnaval com muito entusiasmo e animação por décadas é simplesmente o fato de o indivíduo desta terra ser alegre, feliz e que gosta de se divertir, além é claro da grande paixão dos habitantes da cidade pela data. Essa tradição passou de geração em geração e, atualmente, até quem é de fora do município se rende a um dos mais tradicionais carnavais do Rio Grande do Sul.
Histórico
A seguir, um breve histórico da evolução da maior festa de Lavras do Sul.
Início do século XX - O começo da folia lavrense
No início do século passado, o Carnaval de Lavras era típico dos carnavais da época, com bailes à fantasia regados a famosas marchinhas (como a clássica Ó Abre Alas, da famosa compositora brasileira Chiquinha Gonzaga). A folia era realizada no antigo Club Mameluco, fundado em 1889 e que, em 1910, uniu-se com o Clube União Lavrense para a formação do Clube Recreativo Lavrense, atual Clube Comercial.
Era comum na época o ato de molhar pessoas próximas ou pedestres com baldes d'água, uma forma de deixar as mágoas do ano inteiro para brincar no Carnaval. Alguns não gostavam da brincadeira e ameaçavam os foliões caso levassem um banho destes, mas outros nem ligavam. Outro costume do período era o "assalto" às casas dos componentes dos blocos, onde haviam as românticas e tradicionais serenatas com o objetivo de mobilizar os membros do bloco para o Carnaval.
Naquela época, o Carnaval já tinha bastante movimentação na cidade. A mesma movimentação que perdurou ao longo de décadas e que permanece até os dias de hoje.
A primeira rainha do Carnaval de Lavras surgiu nesse período e foi Horizontina Pergentina de Souza Chiappetta, em 1917.
Anos 1930 a 1970 - Relaxados X Qualquer Geito
Nos tempos de Getúlio Vargas, surgiu a tradição que permanece até hoje: a saudável rivalidade entre os blocos Os Relaxados e Vai de Qualquer Geito (ou VG).
O bloco Os Relaxados foi fundado em 1930 por jovens acadêmicos e é considerado, segundo o ator Paulo José, o mais antigo do Brasil. Seu hino até hoje é cantado com muito orgulho por seus simpatizantes ("Dentro da Terra de Lavras/Nunca se viu coisa igual/Um grupo de Relaxados/Ser o rei do Carnaval"). O hino foi composto por Antônio G. del Arroyo e as melodias, pelo Sargento Hermínio, maestro de uma banda militar da época.
O bloco teve como fundadores o Capitão Jonathas Cunha e sua esposa, Sarita, juntamente com uma dissidência do antigo bloco Os Desprezados.
A primeira passeata aconteceu em 1955, encenando críticas de fatos e pessoas da cidade, dentro do espírito carnavalesco. Seu tradicional churrasco do Domingo de Carnaval, a Rádio Mugango (esquete de humor que parodiam pessoas e assuntos da cidade, assim como sua "concorrente", a Rádio Galocha, do VG, que surgiu posteriormente, nos anos 1980) e os famosos versos (ou quadrinhas) humorísticos são outras tradições do bloco.
Voltando aos anos 1930, mais precisamente em 1938, a juventude lavrense que não fazia parte dos grupos acadêmicos e intelectuais acabou ficando sem bloco. Por conta disso, eles se reuniam e perguntavam como iam sair no Carnaval, pois o antigo bloco Deixa Mágoas fora extinto em 1937. A resposta foi: "Vamos sair de qualquer jeito". A frase marcou, a idéia amadureceu e, no mesmo ano, foi fundado o bloco que seria o principal rival (saudável, é claro) dos Relaxados. A palavra "jeito" foi consolidada com a letra "g" , dando mais originalidade e peculiaridade ao seu nome. É o início do Vai de Qualquer Geito (conhecido também como VG), que teve dentre seus principais fundadores, Aurélio Ricaldi, Balduíno Silva, Valdo Teixeira, Dante La-Rocca, Carlos Machado e Zeferino Ricaldi.
O hino do VG foi composto pelo consagrado músico Lupicinio Rodrigues, que era amigo de um dos fundadores. Seus principais versos são: "Vai-Vai, vai-vai, vai de qualquer jeito-vai/Vai-vai enfezar no Carnaval!...É de-quá, é de-quá/ é de qualquer jeito/ É de-quá...".
A exemplo d'Os Relaxados, o Vai de Qualquer Geito também possui seus eventos tradicionais, como a Rádio Galocha (que, segundo seus criadores, "fala para os céus de Lavras e para o mundo!"), o seu churrasco de Carnaval, onde ocorria o "batismo" com cerveja e farinha para os novos membros, e suas serenatas tradicionais, onde seus filiados eram "assaltados" e chamados para participar das reuniões e festas do bloco, através da saudação Quinquincuera de Latincuera.
Nos anos 1930, sobretudo antes da fundação do VG, diversos blocos surgiram, mas acabaram por ser extintos. Alguns deles: Malmequer, Desacato, Zigue-Zague, Bloco das Garotas, Bloco das Marimbas e Deixa Mágoas.
A partir dos anos 1940, os dois blocos passaram a polarizar a preferência dos lavrenses, formando assim uma saudável disputa carnavalesca.
Os Relaxados e VG foram os grandes expoentes e divulgadores do carnaval lavrense.
O amor, a tradição e a saudável rivalidade entre os dois blocos permanece até hoje, mas ao longo dos anos, muitas dissidências aconteceram e muitos jovens separaram-se dos dois blocos para a fundação de outros. É o caso dos extintos Os Marinheiros (que surgiu nos anos 1950) e BET-BUC (fundado nos anos 1980), e do Vira Lata (que tem um grande número de simpatizantes e está bastante ativo nos dias atuais).
Ao longo das décadas de 1940 a 1980, as tradições do Carnaval lavrense persistiam. A folia, assim como nos dias atuais, acontecia num clima de paz e harmonia. Muitos homens se vestiam de mulheres na tradicional Passeata dos Relaxados e em eventos de outros blocos.
Anos 1980 - Renovação
Nessa década, o Carnaval de Lavras passou por uma grande renovação. Os jovens, dissidentes do VG e d'Os Relaxados, decidiram fundar novos blocos, com o objetivo de incrementar as opções carnavalescas da cidade. Foi o caso de Rafael Bayard de Carvalho Teixeira que, junto com seus familiares e amigos, fundou, em 1987, o BET-BUC (sigla de Brasileiros Entusiasmados Tentando Botar União no Carnaval); atualmente, o bloco está extinto. Alguns anos antes, já havia outro importante bloco de adolescentes: o Vira-Lata (1982), cujo primeiro a presidir foi Jorge La-Bella e que até hoje mantém um grande número de membros, praticamente todos jovens e, entre eles, muitas crianças. A importância desse bloco na cidade é tamanha, que acabou merecendo um quadro próprio no salão térreo do Clube Comercial (foto abaixo).
Com o objetivo principal de mostrar irreverência e bom humor, vários blocos surgiram, além dos dois citados no parágrafo anterior: Os Bombachinhas (1979), Os Bexiguinhas (1980) e Caprichosos do Paredão (1986).
Os bailes ainda eram realizados quase que unicamente no Clube Comercial, onde havia um camarote (que foi desativado na década de 1990 devido a reformas no clube). Foi nessa década que surgiu a Rádio Galocha, do bloco VG, que fazia concorrência à Rádio Mugango, d'Os Relaxados. Há mais de 60 anos, esse quadro humorístico faz sátiras à personalidades e fatos relacionados a Lavras do Sul.
Anos 1990 - Ultrapassando as divisas lavrenses
Se nos anos 1980, o Carnaval lavrense já era consolidado entre a comunidade, na última década do século XX, com grandes investimentos da Prefeitura Municipal e da Secretaria de Turismo, passou a contar com muitos foliões de diversas cidades vizinhas (sobretudo de Caçapava do Sul e Bagé) e de outras regiões do Estado, que passaram a frequentar a maior festa do município, consagrando-se nos últimos anos e tomando grandes proporções a nível regional e estadual.
Com isso, os bailes adultos (e depois, mais tarde, os infantis) deixaram de ficar restritos ao Clube para ganhar espaço na Praça Licínio Cardoso. O resultado disso é a presença de cerca de 5 mil pessoas em cada uma das cinco noites da folia, todos os anos.
Outro acontecimento marcante da década de 90 foi a multiplicação de pequenos blocos carnavalescos. Pequenos no tamanho e no número de integrantes em relação aos mais tradicionais, mas não menos animados, como o caso de Os Expulsos do Bar, Louquinhos do Bem-te-vi, Copo Seco e Os Pirata. A primeira escola de samba do município, Os Filhos do Sol, também surgiu durante esse período.
Um fato triste para a cena carnavalesca da cidade, especialmente para os fãs d'Os Relaxados, foi a morte de importantes e famosos compositores de quadrinhas do bloco, como Zé Benito e Carlos Crespo.
Anos 2000 - A consagração
O Carnaval de Lavras no início deste século tomou grandes proporções, sendo considerado um dos mais
importantes do Interior do Estado (até mesmo uma significativa quantidade de pessoas e foliões de Porto Alegre vão para a cidade nessa época).
Os investimentos na festa aumentaram ainda mais. Foram instalados banheiros, algumas barracas de comércio e praça de alimentação. Mais blocos, menores em relação aos mais tradicionais, mas com a mesma grande animação, foram surgindo, como: As Peruas, Marilú, Os T.Xupo, Festa Trago e Baixaria, Superpoderosas em TPM, Festeja, Skolizadas, Os Bartira, Os Nonão, Os Nor+, Baita Fogo, Ninfas e Kamaradas Dy Verdy. Durante a década, surgiu a segunda escola de escola de samba da cidade, a Unidos do Cerro.
Em 2003, um filho ilustre lavrense participou do desfile d'Os Filhos do Sol: o ator da Rede Globo e diretor Paulo José, que há alguns anos não visitava a cidade. Em 2007, a mesma escola homenageou Paulinho Perez, portador de necessidades especiais e figura bastante carismática na cidade.
Todas as noites de folia são marcadas pelos desfiles da corte do Carnaval (foto abaixo, da corte mirim de 2007) e pelas passagens de todos os blocos, seguidos pelos bailes ao ar livre e no Clube Comercial, que animam os foliões até o sol raiar.
Em 2008, mais inovações e novidades surgiram e a folia de Lavras marcou época. Um novo palco foi construído com três ângulos, para a realização dos tradicionais bailes e as "rádios".
Em 2009 e 2010, a Praça Licínio Cardoso sofreu modificações cada vez mais significativas, de modo que os foliões pudessem aproveitar com mais comodidade e alegria as cinco noites de folia. Nos últimos anos, criou-se um complexo carnavalesco, que passa englobar o setor de trás da Igreja Matriz de Santo Antônio (onde se instala uma praça de alimentação), além do reforço de serivços essesnciais, como saúde e segurança, mobilizando as secretarias municipais. Portanto, a cada ano que passa, a folia lavrense vem recebendo grandes investimentos, para uma consolidação ainda maior do grande evento da nossa comunidade.
A afiliada da Rede Globo, a RBS TV Santa Maria, anualmente faz referências à festa em pelo menos um de seus telejornais, tanto localmente (região de cobertura da emissora), quanto em em rede estadual, levando as imagens do Carnaval da Terra do Ouro a todos os cantos do Rio Grande.
Os blocos carnavalescos da Município não influem na comunidade apenas no período do Carnaval: um exemplo claro disso é atuação, com eventos, festas e integração ao longo de todo o ano, por parte do bloco Baita Fogo. Fundado em 2003, se constituiu em um dos blocos que mais cresceram em número de componentes na década de 2000. Pelo menos uma vez ao mês, o Baita Fogo realiza festas, para os seus simpatizantes e para todos os jovens que quiserem curtir uma balada e muito agito, realizando, por exemplo, o Carnaval de Inverno, no Casablanca Eventos, em julho. Os demais blocos de jovens também realizam festas mensais. Há torneios de futsal em períodos como o mês de novembro, realizados pelo Grupo dos Relaxados (que comemorou 80 anos de existência em 2009), o Cem Miséria, o bloco Os Nonão e outros.
Em 2011, surgiu a marca CarnaLavras, para a denominação do Carnaval lavrense.
Conclusão
Cada vez mais, o lavrense curte esssa grande festa com muita alegria, fazendo com que o futuro carnavalesco da cidade seja brilhante, sempre mantendo as tradições, mas também crescendo a cada ano que passa para deixar ainda mais grandioso um dos maiores carnavais do interior do Rio Grande do Sul.
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